Em Portugal, 25% das crianças, ou praticamente a mesma percentagem de famílias, vivem em casas onde entra água, 13% não têm aquecimento e 10% não têm luz suficiente. Estes números impressionantes onde se podem juntar os da iliteracia dos adultos e os da inaptidão digital, dizem muito sobre nós e sobre o que precisamos.”[i]
Poderia ainda acrescentar que em Portugal existem muitas crianças que vão à escola não para aprenderem, mas para poderem ter um pequeno-almoço e um almoço decentes. E não nos deixemos iludir, este panorama já existe há muito tempo, é uma realidade de antes da pandemia e mostra que as políticas sociais assistencialistas só por si, são meros sorvedouros dos dinheiros de todos nós.
Portugal tem sido exímio em atirar com dinheiro para cima dos problemas e, porque o dinheiro não é nosso, é emprestado, gasto esse dinheiro os problemas mantêm-se e a dívida cresce e como sempre voltamos ao princípio, aflitos, estrangulados à espera de um novo balão de oxigénio vindo de Bruxelas que é um sítio mais fácil de identificar do que esses nomes míticos, FMI ou União Europeia. Ultimamente também aprendemos a ter muita fé num outro nome: BCE (Banco Central Europeu).
A isto estamos condenados desde 1986 (quando entrámos para a então CEE). Desde essa altura os sucessivos Governos torraram cerca de €140.000 milhões e apenas conseguiram que continuássemos na cauda da Europa, com crescimentos próximos do 0 (zero) e uma dívida externa absurda. Para cereja no cimo do bolo acabámos numa bancarrota da qual, na prática, ainda estamos a sair, mas com prognóstico reservado.
Com a pandemia às costas e um Governo desafinado, Costa em Julho de 2020 anuncia a Bazuca Europeia e, porque todos os seus ministros se encontravam muito ocupados no combate à pandemia e a tentarem gastar o dinheiro do programa Portugal 2020 cuja execução não foi além de 37% por falta de investimento público, entendeu por bem que tinha de ser ‘um desocupado com jeito para os números’ que de borla, gizasse um plano que soasse bem aos portugueses, e tirou da cartola o Prof. António Costa Silva que elaborou um Plano de Recuperação Económica para Portugal 2020-2030[ii]. Lembram-se? A ideia era “colocar as empresas no centro da recuperação económica, transformando-as no motor real do crescimento e da criação e riqueza”
Apresentado o plano, Costa foi anunciando a Bazuca e em simultâneo um novo plano agora chamado PRR Plano de Recuperação e Resiliência[iii] mas porque o dinheiro fresco seria muito, o Estado passava a ser o principal beneficiário e as empresas disputariam apenas as franjas como se fosse possível ao Estado ser o motor da recuperação económica do país. Mas vamos aos números (os que se conhecem):
€ 13.842 mil milhões
Administração Pública € 1,670 mil milhões
SNS Serviço Nacional de Saúde € 1,038 mil milhões
Floresta / Combate a incêndios € 665 milhões
Estes são os números maiores a que se seguem um rol tremendo de investimentos que já deveriam estar executados via Orçamento Geral do Estado não fossem as cativações que reduziram o investimento público a valores residuais.
Repare-se a propósito que a Administração Pública vai receber mais dinheiro do que o SNS.
Só depois, por fim e apenas como uma única linha, lá aparecem as empresas:
Agendas mobilizadoras de reindustrialização € 930 milhões
(não se sabe ao certo o que é, mas cheira a ‘subsídios’)
O delírio tem sido tão grande que o Presidente da República entendeu criar uma equipa para ‘manter uma apertada vigilância sobre a gestão do dinheiro que chega da bazuca europeia”
E o caso não é para menos porque o balanço é negro. Portugal terminou o ano de 2020 com um deficit de € 10,320 mil milhões
e uma dívida externa de cerca de € 280 mil milhões (145.7% do PIB nacional)
…………………….saldo negativo de € 290,320 mil milhões (sangue dos nossos Heróis)
ora a tão anunciada Bazuca são € 13,842 mil milhões (a esperança da Nação)
Com estes valores em 2028 quando o PRR chegar ao fim muito pouco ou nada se terá alterado.
No estado em que estamos, esta bazuca não é mais que uma vitamina e daquelas de supermercado.
Mafra, 10 de Março de 2021
Mário de Sousa
[i] Henrique Monteiro – Expresso, 26 de Fevereiro de 2021
[ii] https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/comunicacao/documento?i=visao-estrategica-para-o-plano-de-recuperacao-economica-de-portugal-2020-2030
[iii] https://www.portugal.gov.pt/pt/gc22/comunicacao/noticia?i=plano-de-recuperacao-e-resiliencia-recuperar-portugal-construindo-o-futuro
Pode ler (aqui) outros artigos de opinião de Mário de Sousa
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